Prefeitura de Belo Horizonte adia de novo a conclusão do inventário das árvores da cidade

A árvore parecia saudável. Tinha 20 anos, 30 metros de altura, copa verde e tronco de aspecto robusto. A administração do Parque Municipal, no Centro de Belo Horizonte, não suspeitava que aquele belo jatobá de seu acervo pudesse desabar a qualquer momento – mas desabou, na Alameda Ezequiel Dias. E caiu em cima de uma mulher, que morreu na hora. A raiz à mostra denunciou uma das prováveis causas do acidente: a base estava toda infestada de cupins. O empurrão que faltava para a planta vir abaixo foi dado pelas fortes chuvas da época, que minaram a coesão do solo, na interpretação dos bombeiros que atenderam a ocorrência.

A fatalidade fez com que a prefeitura começasse há um ano o tão esperado inventário de todas as árvores de BH, instrumento que permitiria constatar com precisão se determinada planta está doente ou se corre risco de cair. Porém, às vésperas de novo período de chuvas na capital – que deve se iniciar ao longo da segunda quinzena deste mês, prevê o Instituto Nacional de Meteorologia –, a conclusão do levantamento volta a ser adiada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). Desta vez, o prazo saltou de janeiro de 2013 para dezembro do mesmo ano. E o pior é que nem os dados já coletados poderão ser utilizados antes do próximo temporal, uma vez que ainda não foram reunidos em um banco de dados.

Segundo o gerente de projetos especiais da secretaria, Júlio de Marco, a principal razão dos atrasos é o fato de a pesquisa ter encontrado mais árvores do que o esperado. No início, estimava-se que a cidade tinha cerca de 190 espécies e 300 mil plantas. “Descobrimos que nossas estimativas eram precárias. Agora, estamos prevendo que haja 350 mil árvores. Além disso, o inventário já chegou a 335 espécies”, diz De Marco. O cadastro considera árvores enraizadas em logradouros públicos e com até cinco metros de afastamento do lote. Por enquanto, a pesquisa atingiu as regiões Leste e Noroeste, onde foram registradas 90.569 e 30.897 árvores, respectivamente, e começou a mapear a Oeste.

Outro motivo para o adiamento do prazo é a preocupação com a segurança das equipes do levantamento, compostas por técnicos das nove administrações regionais da prefeitura, por profissionais da SMMA, da Companhia Energética do estado de Minas Gerais (Cemig) e da Prodabel – a empresa de processamento de dados da municipalidade –, além de professores e estudantes da Universidade Federal de Lavras (Ufla). “No início das atividades, houve roubo de equipamentos. Depois disso, o pessoal só sai acompanhado pela Guarda Municipal, mas nem sempre há guardas à disposição. Tivemos que modificar o ritmo; isso provocou um reajuste em nosso cronograma”, explica De Marco.


A pesquisa levanta 57 informações sobre cada árvores, como espécie, porte, localização e o estado fitossanitário – em outras palavras, as condições de saúde. Os dados só poderão ser utilizados depois de sua inclusão em um banco de dados virtual. “O que se está fazendo é um levantamento da situação, mas o banco de dados deve ser permanentemente atualizado, pois o tempo todo estão sendo plantadas novas árvores”, diz o gerente de projetos especiais da SMMA. A ideia é que as plantas sejam acompanhadas por toda a vida. Das já analisadas, ainda não dá para saber quantas estão em risco de desabar e, por isso, devem ser removidas. “É preciso cruzar várias informações para chegar a essa conclusão.”



acidentes Este ano, até setembro, o Corpo de Bombeiros atendeu 535 ocorrências de queda de árvores na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma média de quase 60 por mês. Os bombeiros não informaram em quantas vezes houve vítimas. O maior número de acidentes foi registrado em janeiro (138), quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) anotou aproximadamente 370 milímetros de chuva, 25% acima da média normal, de 296 milímetros.

Engenheiro agrônomo da Gerência de Jardins e Áreas Verdes da Regional Pampulha, Agenor Vinicius Pereira acredita que o levantamento permitirá o planejamento mas eficaz de medidas preventivas, especialmente em período chuvoso. Nesta época, o risco de uma árvore cair aumenta, entre outras razões, porque a água pode encharcar o solo, que fica menos resistente e enfraquece a sustentação da raiz. Além disso, durante uma tempestade a força do vento pode levar a planta ao chão. “É como se fosse alguém empurrando uma árvore. Ela pode ceder”, explica Pereira.

No entanto, durante uma chuva forte, as árvores costumam mais ajudar que causar prejuízos, ressalta o biólogo Sérvio Pontes Ribeiro, professor de ecologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). “As árvores retêm a velocidade com que a água chega ao chão. Ela sai gotejando pelas folhas, descendo pelos troncos. Além disso, as raízes funcionam como esponjas, fazendo com que a água entre na terra e diminuindo inundações. As plantas geram equilíbrio ecológico na cidade”, explica. “É preciso ter muita cautela antes de decidir cortar uma árvore. O número das que caem é pequeno ante das que ficam de pé.”

Memória

Acidente em hospital

Na tarde do dia 15 de janeiro de 2010, uma árvore de grande porte caiu e matou três pessoas que tentavam se proteger de um temporal sob uma guarita, na entrada do Hospital Júlia Kubitschek, no Bairro Milionário, Região do Barreiro. De acordo com o Corpo de Bombeiros, por volta das 13h30, as vítimas foram atingidas por um eucalipto de cerca de 20 metros, que tombou sob chuva intensa, acompanhada de ventos fortes. Morreram Jorge Maciel da Silva, de 62 anos, Edna Gomes da Silva, de 22, e o filho dela, Michael Gomes da Silva, de 3. Outras quatro pessoas sofreram ferimentos leves.

A quem apelar

Se constatar que a árvore causa problemas ou desconfiar que ela apresenta algum risco, o cidadão pode pedir a remoção da planta por meio do telefone 156 ou pelo Sistema de Atendimento ao Cidadão (SAC Web), disponível no site da prefeitura (pbh.gov.br). Depois de receber o pedido, a regional competente tem 15 dias para realizar vistoria e, se confirmado o problema, emitir laudo recomendando a supressão da planta. Após a emissão do laudo, a Gerência de Jardins e Áreas Verdes da regional tem 60 dias executar o serviço.

Fonte: Estado de Minas





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