Um dos moradores mais famosos do Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, morreu na manhã de ontem. O ipê amarelo que estava plantado no meio da movimentada Rua Itaguaí foi decepado por funcionários da prefeitura. “É como se tivesse perdido uma pessoa da família. Estou chateado demais”, lamenta o aposentado Adilson Ferreira Dias, de 54 anos, que visitava a árvore todos os dias.
Amigos do ipê se espantaram ao verem apenas o toco no canteiro da planta, na altura do número 441 da Itaguaí. “Levei um choque. Se estivesse na hora, não teria deixado”, diz Adilson, que mora na mesma rua, a algumas casas dali. “Ninguém está acreditando no que aconteceu. Era um ipê maravilhoso. Fazia parte da vida do bairro. Foi uma covardia. O cara vem, corta e não nos dá satisfação alguma”, reclama o engenheiro civil Fernando Pereira, de 51.
Segundo vizinhos, o ipê foi plantado em 2003, no mesmo canteiro ocupado há décadas por uma copaíba sobrevivente da época em que o lugar era uma fazenda. A copaíba, ou pau-de-óleo, foi tombada em abril de 1996 pela Diretoria de Patrimônio Cultural de BH, mas morreu de velhice e precisou ser cortada em 2010. Ao ipê, então, coube manter a tradição. “No Caiçara, qualquer um sabe onde fica a rua com uma árvore no meio”, constata Adilson.
O ipê também herdou o carinho que se devotava à falecida copaíba. “Quando eu era moleque, a gente ficava embaixo da árvore, batendo papo, fazendo piada. Era um ponto de referência para nós”, conta o caminhoneiro Wander Campos, de 55, que desde sempre mora em frente ao canteiro. “Era um símbolo da minha infância, da época em que tudo isso era chão de terra e aqui era uma roça”, recorda Adilson.
No canteiro, ainda tem a placa de metal gravada com o poema “A árvore”, escrito pelo aposentado em homenagem à copaíba. Apesar do luto de alguns, a morte do ipê não foi de todo ruim, na opinião do cabeleireiro Mateus Guerra, dono de um salão a poucos metros da árvore que ajudou a plantar. “Era uma referência, mas o canteiro atrapalha o trânsito”, observa. De vez em quando, o pessoal estaciona o carro ali perto e obstrui a passagem de outros veículos.
Por meio de nota oficial, a prefeitura apenas informou que “o serviço foi executado mediante laudo técnico emitido por engenheiro florestal, após vistoriar o local e constatar a necessidade”. A nota é assinada pela Gerência Regional de Manutenção da Secretaria de Administração Municipal Regional Noroeste.
Fonte: Diário de Pernambuco