A universitária Laura Moura Martins, de 22 anos, tenta convencer duas amigas a adiar uma viagem entre o estado do Maranhão e o Amazonas só para poder passar o carnaval em Belo Horizonte. Nos últimos três anos, a estudante de Ciências Sociais – assim como tantos outros belo-horizontinos – não quis saber do agito carnavalesco do Rio, Olinda ou das cidades históricas de Minas. Ela preferiu curtir a festa nas ruas da capital mineira, pulando de bloco em bloco.
Laura é daquelas pessoas que se transformam nos dias do carnaval e aproveitam cada minuto da festa. “Gasto minha juventude toda no carnaval, mas depois acaba”, brinca. No ano passado, saiu atrás de blocos, como o “Peixoto”, “Manjericão”, “Filhos de Cha Cha”, “Praia da Estação” e “Então, Brilha”. Para ela – que já experimentou o carnaval de rua carioca, mas não gostou do tumulto – a tranquilidade é um dos atrativos em Belo Horizonte. “Gosto das músicas, das marchinhas e também do clima tranquilo. Cada ano fica mais cheio, mas sempre tem clima tranquilo”, diz.
Foi por meio de amigos que ficou sabendo sobre a revitalização da festa em Belo Horizonte nos últimos anos. “Contaram sobre a variedade dos blocos que estão surgindo, uns com músicas próprias, outros com marchinhas e que o povo de BH estava começando a ficar na cidade”, relata o empresário.
Allan Madeira conta que, neste ano, quer “fugir” do carnaval do Rio, que, segundo ele, já não comporta mais tantas pessoas. Para isso, pretende encontrar refúgio em uma festa menor. Ele diz, entretanto, que os amigos cariocas não imaginam que o possível destino é Belo Horizonte. “Quando eu falo, todo mundo se surpreende e pergunta: carnaval em BH?”. Para o empresário, justamente esta novidade é o que atrai. “No começo as coisas sempre são melhores”, explica.
O carnaval nunca parou
À frente do Bloco da Cidade, o sambista Dudu Nicácio é um dos responsáveis por essa nova cara do carnaval de Belo Horizonte. Segundo ele, porém, a cidade nunca parou de fazer carnaval. De acordo com o músico, o que vem acontecendo há quatro ou cinco anos, é a volta de uma parcela da população belo-horizontina às ruas da capital. “Os blocos mais novos, desde 2008, 2009, são geralmente ligados à classe média”, diz. O sambista ainda chama a atenção para a concentração deste movimento em duas regiões de Belo Horizonte, Centro-Sul e Leste, principalmente no tradicional bairro de Santa Tereza.
Mesmo com a “segmentação”, Dudu Nicácio avalia positivamente este movimento. Para o sambista, se o cenário atual carnavalesco da cidade é de públicos bem definidos, a perspectiva para os próximos anos é outra. “A tendência é que cada vez mais que o carnaval se misture. O Bloco da Praia da Estação faz isso, dialoga com quem está na praça [da Estação]. O Bloco da Cidade também. Sempre sai de áreas de favela. Eles apontam para esse intercâmbio”, justifica.
De acordo com a Empresa de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), em 2011, cerca de 20 blocos saíram às ruas da capital. Já em 2012, o número saltou para quase 70 blocos, 48 deles cadastrados na prefeitura. Neste ano, a expectativa é que de 50 a 60 sejam registrados pelos organizadores junto à administração pública.
O Unidos do Samba Queixinho é um desses blocos que surgem espontaneamente e que tem dado novo fôlego à festa. Hoje, com bateria formada por 70 pessoas, ele foi criado em 2010, por oito amigos que tinham pouco dinheiro para viajar e vontade de sobra para botar o bloco na rua.
Fundador do Samba Queixinho, Gustavo Caetano acredita que muitos belo-horizontinos, assim como a turma dele, perceberam que não era preciso deixar a capital para curtir a festa. Para ele, entretanto, esta nova configuração da festa em Belo Horizonte representa mais que um movimento de carnaval. “Foi um movimento de tomada de espaços públicos e descoberta de que cidade está aí para as pessoas usarem”, avalia.
Mas nem tudo é folia quando o assunto é a revitalização do carnaval em Belo Horizonte, que, muitas vezes, envolve uma relação delicada entre organizadores e prefeitura.
Gustavo Caetano aponta desafios e dificuldades de manter um bloco na cidade. “O grande desafio é apenas em ensinar as pessoas a tocarem seus instrumentos e se sentirem realizadas. A dificuldade vem dos órgãos públicos que até hoje não sabem diferenciar uma manifestação cultural, popular, sem fins lucrativos dos grandes eventos carnavalescos”, aponta.
Dudu Nicácio afirma que, no ano passado, percebeu um avanço no apoio por parte da prefeitura, viabilizando, por exemplo, a instalação de banheiros químicos, mas ainda de forma “precária”. Ele acredita que seria fundamental que a administração pública participasse de forma a potencializar as qualidades da festa.
De acordo com o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Belotur, Gelton Pinto Coelho, o poder público tem se mobilizado para incentivar a festa na rua. “Esses blocos surgem de maneira espontânea, e a gente quer ajudar nesse processo, não quer cercear e nem pautar o que façam. O que a gente quer é que curtam com segurança”, afirma.
Coelho destaca que, para 2013, a prefeitura realizou um chamamento público, específico para blocos de rua e eventos carnavalescos. Segundo ele, o edital prevê a distribuição de R$ 400 mil para serem gastos com banheiros químicos e sonorização, por exemplo. O diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Belotur ressalta ainda que o apoio logístico dado aos blocos, no ano passado, também será mantido.
Fonte: G1